outubro 29, 2010
fevereiro 12, 2007
Interlúdio
As palavras estão muito ditas
e o mundo muito pensado.
Fico ao teu lado.
Não me digas que há futuro
nem passado.
Deixa o presente — claro muro
sem coisas escritas.
Deixa o presente. Não fales,
Não me expliques o presente,
pois é tudo demasiado.
Em águas de eternamente,
o cometa dos meus males
e o mundo muito pensado.
Fico ao teu lado.
Não me digas que há futuro
nem passado.
Deixa o presente — claro muro
sem coisas escritas.
Deixa o presente. Não fales,
Não me expliques o presente,
pois é tudo demasiado.
Em águas de eternamente,
o cometa dos meus males
afunda, desarvorado.
Fico ao teu lado.
Fico ao teu lado.
Cecília Meireles
.............
Feliz Aniversário meu amor,
foste a melhor coisa que me aconteceu.
fevereiro 03, 2007
Filosofia
Mas que queremos da vida? É a vida? O
que se procura em cada segundo para se perder
em cada segundo? O tempo, assim, de nada
nos serve. Um dia, dando por nós próprios,
perguntamo-nos o que fizemos, por onde
andámos, que cidades e casas percorremos,
sem que uma resposta nos satisfaça. A
vida, então, limita-se a ser o que fez
de nós, sem que o tenhamos desejado, e
nada pode ser feito para voltar atrás, nem
para restituir os passos trocados de
direcção, as frases evitadas no último
extremo, o olhar que se desviou quando
não devia.Ah, sim - e o amor? É isso
que queremos da vida? É verdade: cada um
dos abraços que se deram, contando cada
instante; o rosto lembrado no auge do
prazer, quando um súbito sol desponta
dos seus lábios; os cabelos presos nas
mãos, como se elas prendessem o feixe
da eternidade...Assim, a vida poderá
ter valido a pena.É o que fica: o que
nos foi dado e o que damos, sem que nada
nos obrigasse a dar ou a receber, o puro
gesto do acaso na mais absoluta das
obrigações.Então, volto a perguntar: que
outra coisa queremos da vida?
NUNO JÚDICE
In- Cartografia de Emoções
que se procura em cada segundo para se perder
em cada segundo? O tempo, assim, de nada
nos serve. Um dia, dando por nós próprios,
perguntamo-nos o que fizemos, por onde
andámos, que cidades e casas percorremos,
sem que uma resposta nos satisfaça. A
vida, então, limita-se a ser o que fez
de nós, sem que o tenhamos desejado, e
nada pode ser feito para voltar atrás, nem
para restituir os passos trocados de
direcção, as frases evitadas no último
extremo, o olhar que se desviou quando
não devia.Ah, sim - e o amor? É isso
que queremos da vida? É verdade: cada um
dos abraços que se deram, contando cada
instante; o rosto lembrado no auge do
prazer, quando um súbito sol desponta
dos seus lábios; os cabelos presos nas
mãos, como se elas prendessem o feixe
da eternidade...Assim, a vida poderá
ter valido a pena.É o que fica: o que
nos foi dado e o que damos, sem que nada
nos obrigasse a dar ou a receber, o puro
gesto do acaso na mais absoluta das
obrigações.Então, volto a perguntar: que
outra coisa queremos da vida?
NUNO JÚDICE
In- Cartografia de Emoções
janeiro 30, 2007
...
Deixa-te estar embalado no mar nocturno
onde se apaga e acende a salvação...
Deixa-te estar na exaltação dos sonhos sem forma:
com ela caminha o horizonte dos meus braços abertos,
e por cima do céu estão meus olhos pregados, guardando-te.
Deixa-te balançar entre a vida e a morte, sem nenhuma saudade:
deslizam os astros na abundância do tempo que cai:
nós somos pequenos como um ponto de pólen rodando entre os mundos.
Deixa-te estar neste embalo de água gerando círculos...
Nem é preciso dormir para a imaginação desmanchar-se em figuras
ambíguas...
Nem é preciso fazer nada para se estar na alma de tudo...
Nem é preciso querer mais, - que vem de nós um beijo eterno
e afoga a boca da vontade e os seus pedidos...
Cecília Meirelles
janeiro 19, 2007
Gosto...
- de acordar contigo...
- de sentir o teu corpo no meu...
- de quando me ligas a meio da manhã...
- dos nossos almoços pensados em cima da hora...
- dos nossos jantares cozinhados a dois...
- das tuas gargalhadas, quando os cães te "atacam"...
- da tua calma, quando entro em stress...
- de te ouvir tocar para mim...
- de saber que me amas...
- de adormecer aninhada em ti...
- do sabor dos teus beijos...
- de sentir o teu corpo no meu...
- de quando me ligas a meio da manhã...
- dos nossos almoços pensados em cima da hora...
- dos nossos jantares cozinhados a dois...
- das tuas gargalhadas, quando os cães te "atacam"...
- da tua calma, quando entro em stress...
- de te ouvir tocar para mim...
- de saber que me amas...
- de adormecer aninhada em ti...
- do sabor dos teus beijos...
janeiro 09, 2007
dezembro 23, 2006
Feliz Natal
Querido Pai Natal:
Este ano portei-me tão mal como nos outros anos todos.
Por isso e para variar, este ano peço-te aquele rádiozito
que traz aquele carro que tu sabes em redor...
E vocês, o que pediram ao Pai Natal?
Feliz Natal para todos,
com muita saúde, amor e dinheiro.
dezembro 18, 2006
Helenices...
Respiro o teu corpo:
sabe a lua-de-água ao amanhecer,
sabe a cal molhada, sabe a luz mordida,
sabe a brisa nua, ao sangue dos rios,
sabe a rosa louca, ao cair da noite
sabe a pedra amarga, sabe à minha boca.
Diz homem, diz criança, diz estrela.
Repete as sílabas
onde a luz é feliz e se demora.
Volta a dizer: homem, mulher, criança.
Onde a beleza é mais nova.
Eugénio de Andrade
sabe a cal molhada, sabe a luz mordida,
sabe a brisa nua, ao sangue dos rios,
sabe a rosa louca, ao cair da noite
sabe a pedra amarga, sabe à minha boca.
Diz homem, diz criança, diz estrela.
Repete as sílabas
onde a luz é feliz e se demora.
Volta a dizer: homem, mulher, criança.
Onde a beleza é mais nova.
Eugénio de Andrade
O que fazes nos próximos 50 anos?
dezembro 10, 2006
dezembro 03, 2006
Retrato...
Saber o que és, dizer o teu corpo,
ouvir-te num breve instante,
dizer o que é amor sem o dizer,
tirar de mim um poema que te cante;
e ver passar-te por entre os dedos
o fio de luz que prende os teus olhos,
e vê-lo enrolar-se em segredos
quando a tua voz o apaga e acende;
ouvir-te num breve instante,
dizer o que é amor sem o dizer,
tirar de mim um poema que te cante;
e ver passar-te por entre os dedos
o fio de luz que prende os teus olhos,
e vê-lo enrolar-se em segredos
quando a tua voz o apaga e acende;
tocar-te os lábios num fim de verso,
ver-te hesitar entre sorriso e mágoa,
perguntar se o teu rosto tem reverso,
e ter nele uma transparência de água:
é o que vejo em ti no cair de véu
em que me dás a terra que vale o céu.
Nuno Júdice
Tinha tantas saudades tuas...
novembro 27, 2006
novembro 23, 2006
Sonhei...
Sonhei comigo esta noite
Vi-me ao comprido
Deitada
Tinha estrelas nos cabelos
em meus olhos madrugadas
Sonhei comigo esta noite
como queria ser sonhada
Senti o calor da mão
percorrendo uma guitarra
De loge vinha um gemido
uma voz desabalada
Havia um campo de trigo
um sol forte me abrasava.
E acordei meio sonhando
procurando me encontrar.
Quando me vi ao espelho
era teu o meu olhar.
Eugénia Tabosa
Vi-me ao comprido
Deitada
Tinha estrelas nos cabelos
em meus olhos madrugadas
Sonhei comigo esta noite
como queria ser sonhada
Senti o calor da mão
percorrendo uma guitarra
De loge vinha um gemido
uma voz desabalada
Havia um campo de trigo
um sol forte me abrasava.
E acordei meio sonhando
procurando me encontrar.
Quando me vi ao espelho
era teu o meu olhar.
Eugénia Tabosa
novembro 20, 2006
Reverência ao Destino
(...)
Fácil é abraçar, apertar as mãos, beijar de olhos fechados.
Difícil é sentir a energia que é transmitida.
Fácil é abraçar, apertar as mãos, beijar de olhos fechados.
Difícil é sentir a energia que é transmitida.
Aquela que toma conta do corpo como uma corrente eléctrica quando tocamos a pessoa certa.
Fácil é querer ser amado. Difícil é amar completamente só.
Amar de verdade, sem ter medo de viver, sem ter medo do depois.
Amar e entregar-se. E aprender a dar valor somente a quem o ama.
Fácil é ouvir a música que toca. Difícil é ouvir a sua consciência. Acenar
o tempo todo, mostrar as nossas escolhas erradas.
(...)
Fácil é chorar ou sorrir quando se tem vontade.
Difícil é sorrir com vontade de chorar ou chorar de rir, de alegria.
Fácil é dar um beijo. Difícil é entregar a alma. Sinceramente, por inteiro.
Fácil é sair com várias pessoas ao longo da vida. Difícil é entender que
pouquíssimas delas vão aceitá-lo como você é e faze-lo feliz por inteiro.
Fácil é ocupar um lugar na agenda telefónica. Difícil é ocupar o coração
de alguém. Saber que se é realmente amado.
Fácil é querer ser amado. Difícil é amar completamente só.
Amar de verdade, sem ter medo de viver, sem ter medo do depois.
Amar e entregar-se. E aprender a dar valor somente a quem o ama.
Fácil é ouvir a música que toca. Difícil é ouvir a sua consciência. Acenar
o tempo todo, mostrar as nossas escolhas erradas.
(...)
Fácil é chorar ou sorrir quando se tem vontade.
Difícil é sorrir com vontade de chorar ou chorar de rir, de alegria.
Fácil é dar um beijo. Difícil é entregar a alma. Sinceramente, por inteiro.
Fácil é sair com várias pessoas ao longo da vida. Difícil é entender que
pouquíssimas delas vão aceitá-lo como você é e faze-lo feliz por inteiro.
Fácil é ocupar um lugar na agenda telefónica. Difícil é ocupar o coração
de alguém. Saber que se é realmente amado.
Fácil é sonhar todas as noites. Difícil é lutar por um sonho.
(...)
(...)
novembro 17, 2006
Ausência
Por muito tempo achei que a ausência é falta.
E lastimava, ignorante, a falta.
Hoje não a lastimo.
Não há falta na ausência.
A ausência é um estar em mim.
E sinto-a, branca, tão pegada, aconchegada nos meus braços,
que rio e danço e invento exclamações alegres,
porque a ausência, essa ausência assimilada,
ninguém a rouba mais de mim.
Carlos Drummond de Andrade
novembro 15, 2006
A Voz
Da tua voz
o corpo
o tempo já vencido
os dedos que me
vogam
nos cabelos
e os lábios que me
roçam pela boca
nesta mansa tontura
em nunca tê-los...
Meu amor
que quartos na memória
não ocupamos nós
se não partimos...
o corpo
o tempo já vencido
os dedos que me
vogam
nos cabelos
e os lábios que me
roçam pela boca
nesta mansa tontura
em nunca tê-los...
Meu amor
que quartos na memória
não ocupamos nós
se não partimos...
Mas porque assim te invento
e já te troco as horas
vou passando dos teus braços
que não sei
para o vácuo em que me deixas
se demoras
nesta mansa certeza que não vens.
Maria Teresa Horta
e já te troco as horas
vou passando dos teus braços
que não sei
para o vácuo em que me deixas
se demoras
nesta mansa certeza que não vens.
Maria Teresa Horta
novembro 13, 2006
Se duvidas...
Se duvidas que teu corpo
Possa estremecer comigo –
E sentir
O mesmo amplexo carnal,
– desnuda-o inteiramente,
Deixa-o cair nos meus braços,
E não me fales,
Não digas seja o que for,
Porque o silêncio das almas
Dá mais liberdade
às coisas do amor.
Se o que vês no meu olhar
Ainda é pouco
Para te dar a certeza
Deste desejo sentido,
Pede-me a vida,
Leva-me tudo que eu tenha –
Se tanto for necessário
Para ser compreendido.
Possa estremecer comigo –
E sentir
O mesmo amplexo carnal,
– desnuda-o inteiramente,
Deixa-o cair nos meus braços,
E não me fales,
Não digas seja o que for,
Porque o silêncio das almas
Dá mais liberdade
às coisas do amor.
Se o que vês no meu olhar
Ainda é pouco
Para te dar a certeza
Deste desejo sentido,
Pede-me a vida,
Leva-me tudo que eu tenha –
Se tanto for necessário
Para ser compreendido.
António Botto
novembro 12, 2006
Going on...
Necessário é atravessar o túnel de chuva onde o silêncio fez ninho.
Passar a barreira do eco de antigos sons murmurados.
Sacudir na volta da estrada o peso carregado de sentir.
E seguir.
Rumo ao lugar isolado onde o meu canto sozinho dirá sol nos dias esperados.
Que a vida é sempre o porvir dito em silêncio ou gritado e é certo o tempo de chorar.
E o de amar.
(Lique)
Passar a barreira do eco de antigos sons murmurados.
Sacudir na volta da estrada o peso carregado de sentir.
E seguir.
Rumo ao lugar isolado onde o meu canto sozinho dirá sol nos dias esperados.
Que a vida é sempre o porvir dito em silêncio ou gritado e é certo o tempo de chorar.
E o de amar.
(Lique)
novembro 10, 2006
novembro 07, 2006
Manias
Uma vez que o desafio foi lançado pela Maria, aquela menina de quem todos gostamos, aqui vai:
"Cada bloguista participante tem de enunciar cinco manias suas, hábitos muito pessoais que os diferenciem do comum dos mortais. E além de dar ao público conhecimento dessas particularidades, tem de escolher cinco outros bloguistas para entrarem, igualmente, no jogo, não se esquecendo de deixar nos respectivos blogues aviso do "recrutamento". Ademais, cada participante deve reproduzir este "regulamento" no seu blogue."
1- Acordo sempre com fome e tomo de imediato o pequeno-almoço, enquanto vejo as notícias. Normalmente espero pela meteorologia para depois decidir-me sempre pela roupa mais desadequada e pela falta de chapéu de chuva... (mania não recomendável).
2- Mesmo que chegue atrasada de manhã... vou sempre tomar café 1º e fumar mais um cigarro, antes de entrar.
Atrasada por atrasada... (mania menos recomendável ainda).
3- Gosto muito de uma determinada marca de automóveis e tenho tendência a chamar nomes feios a quem tem um... (não amor, a ti não chamo) :)
4- Adoro e trato os meus cães como se fossem crianças. Um deles gosta de dormir tapado e eu vou aconchegá-lo à noitinha. (A psiquiatra diz que não há tratamento).
5- Sou incapaz de ler apenas um livro de cada vez. Inicio sempre 2 ou 3 e vou lendo alternadamente. (Neste momento são mais ainda...)
Considerem-se desafiados:
* Alentejano
* Bad Lolita
* Cacau
* Corvo Negro
* Suave Maresia
novembro 03, 2006
outubro 28, 2006
outubro 26, 2006
A Beleza
A beleza é efémera. Eu sei.
Dolorosamente.
Angustiadamente. Eu sei.
Por isso, finda que for,
No olhar do outro,
A aranha que me sou,
Tecerá, negríssima,
A derradeira teia.
Faça silêncio, o leitor,
E, antes que a tecedeira,
Se despeça das babas, dos fios,
Dos fusos, dê-me a boca a beijar,
Como um amante.
Abrace-me. Faça-me amor,
Como se o tempo a haver não
Houvera, nem fora efémera
A Primavera.
Mas, por favor, não me traga
Flores, nesse Inverno a vir,
Que eu adorno-o de orvalhos
Azulinos e de um vago rumor
De galhos, partindo.
Dolorosamente.
Angustiadamente. Eu sei.
Por isso, finda que for,
No olhar do outro,
A aranha que me sou,
Tecerá, negríssima,
A derradeira teia.
Faça silêncio, o leitor,
E, antes que a tecedeira,
Se despeça das babas, dos fios,
Dos fusos, dê-me a boca a beijar,
Como um amante.
Abrace-me. Faça-me amor,
Como se o tempo a haver não
Houvera, nem fora efémera
A Primavera.
Mas, por favor, não me traga
Flores, nesse Inverno a vir,
Que eu adorno-o de orvalhos
Azulinos e de um vago rumor
De galhos, partindo.
Violeta Teixeira
outubro 21, 2006
Amor-te
Quem me conhece bem, sabe o quão perto a morte
se tem atravessado no meu caminho...
Visitei hoje uma exposição que me vai marcar para sempre.
Que me fez ter vontade de chorar, mal entrei.
Que me transmitiu uma paz incrível, mal saí.
Que me fez sentir um imenso respeito pelo trabalho em si.
Que me fez olhar para a pessoa que amo e dizer:
é tão bom estar viva e aqui contigo...
Que me fez ter vontade de chorar, mal entrei.
Que me transmitiu uma paz incrível, mal saí.
Que me fez sentir um imenso respeito pelo trabalho em si.
Que me fez olhar para a pessoa que amo e dizer:
é tão bom estar viva e aqui contigo...
O fotógrafo alemão Walter Schels e a jornalista Beate Lakotta
acompanharam cerca de 24 doentes terminais nos seus últimos
momentos de vida. Percorreram diversos hospitais, e durante semanas
viveram de perto a dor de quem sabe que o fim está perto.
A exposição Amor-te nasce do fim das vidas de vários doentes.
A exposição Amor-te nasce do fim das vidas de vários doentes.
Ao todo são 44 fotografias, a preto e branco, que fixam dois momentos:
uma fotografia em vida e outra logo após a morte.
A última fotografia, já depois da morte, é quase como um último
A última fotografia, já depois da morte, é quase como um último
suspiro que fica suspenso para sempre num espaço e tempo.
Amor-te conta-te as experiências, os medos e as esperanças
Amor-te conta-te as experiências, os medos e as esperanças
daquelas pessoas, cujo testemunho está imortalizado através das
fotografias de Walter Schels e dos textos da jornalista da revista
Der Spiegel, Beate Lakotta.
Ao visitares esta exposição estás também a contribuir
Uma associação que tem como objectivo ajudar pessoas em fase
terminal e os seus familiares.
De 3 a 28 de Outubro, no Museu da Água -
De 3 a 28 de Outubro, no Museu da Água -
Reservatório da Mãe D'Água das Amoreiras
situado na Praça das Amoreiras, 10.
outubro 16, 2006
Desejo
Desejo-te para que existas em mim
para que definitivamente possa ter-te,
e no meu corpo feito de areia eu desmaio
a cada vaga de espuma branca
que célere avança sobre mim
quando tu,
em artes de feiticeiro,
me invades e invocas aos céus
todos os santuários repletos de desejos.
São iguarias de espécie o que me dás
delicados paladares e exóticos cheiros
e quando, à noitinha em êxtase eu bebo
o sémen da vida que de ti brota,
murmuro então o teu nome na minha cama
para que ele inunde o lençol que me cobre.
Oh! Sim, eu murmuro o teu nome
porque só as coisas murmuradas
são audíveis aos anjos que dançam
essa dança que é ter-te diante de mim,
na imensidão do espaço onde o meu corpo
te aperta sufocando o ar que nos separa.
É o querer agarrar-te para que tu existas,
é o querer ter-te em mim e dentro de mim,
é o querer que os meus olhos possam ver,
mais para além da simples miragem de ti!
G.M.
para que definitivamente possa ter-te,
e no meu corpo feito de areia eu desmaio
a cada vaga de espuma branca
que célere avança sobre mim
quando tu,
em artes de feiticeiro,
me invades e invocas aos céus
todos os santuários repletos de desejos.
São iguarias de espécie o que me dás
delicados paladares e exóticos cheiros
e quando, à noitinha em êxtase eu bebo
o sémen da vida que de ti brota,
murmuro então o teu nome na minha cama
para que ele inunde o lençol que me cobre.
Oh! Sim, eu murmuro o teu nome
porque só as coisas murmuradas
são audíveis aos anjos que dançam
essa dança que é ter-te diante de mim,
na imensidão do espaço onde o meu corpo
te aperta sufocando o ar que nos separa.
É o querer agarrar-te para que tu existas,
é o querer ter-te em mim e dentro de mim,
é o querer que os meus olhos possam ver,
mais para além da simples miragem de ti!
G.M.
outubro 14, 2006
Nunca são as coisas mais simples...
Nunca são as coisas mais simples que aparecem quando as esperamos.
O que é mais simples, como o amor, ou o mais evidente dos sorrisos,
não se encontra no curso previsível da vida.
Porém, se nos distraímos do calendário, ou se o acaso dos
passos nos empurrou para fora do caminho habitual,
então as coisas são outras.
Nada do que se espera transforma o que somos se não for isso:
um desvio no olhar; ou a mão que se demora no teu ombro,
forçando uma aproximação dos lábios.
O que é mais simples, como o amor, ou o mais evidente dos sorrisos,
não se encontra no curso previsível da vida.
Porém, se nos distraímos do calendário, ou se o acaso dos
passos nos empurrou para fora do caminho habitual,
então as coisas são outras.
Nada do que se espera transforma o que somos se não for isso:
um desvio no olhar; ou a mão que se demora no teu ombro,
forçando uma aproximação dos lábios.
.
Nuno Júdice
outubro 12, 2006
*
(...) O amor e o medo não podem andar juntos.
Quem tem medo não entende nada de amor.
Amar é, precisamente, não ter medo.
É acreditar que se possui uma força imensa.
Quem ama sabe que é
também possuído e protegido pelo amor.
E que, por isso, caminha noutra altura;
voa por cima dos gelos, dos salpicos
das ondas, das pedras aguçadas.
Vai por cima de um mundo muito pequeno,
nas asas de um fogo, em mãos de fadas.
P. Geraldo
outubro 04, 2006
Inevitável
Inevitável foi o toque
a procura
a consumação da loucura
a transformar nós dois
em um.
Nada foi comum
Tudo foi vital
anormal...
dentro da normalidade contida
no acto.
Inevitável foi o tacto
e os meus seios foram teus
... tudo... o corpo todo
sentiu-te em gula
nas entranhas
nas loucas manhas
da manhã-festim...
Inevitável
tatear-me em falso
para sentir-te pleno
em mim...
I. M.
outubro 02, 2006
setembro 29, 2006
A Noite Na Ilha
Fui tão mimada nestes dias de gripe :)
Obrigada amor, por tudo...
Dormi contigo a noite inteira junto do mar, na ilha.
Selvagem e doce eras entre o prazer e o sono,
entre o fogo e a água.
Talvez bem tarde nossos
sonos se uniram na altura e no fundo,
em cima como ramos que um mesmo vento move,
embaixo como raízes vermelhas que se tocam.
Talvez teu sono se separou do meu e pelo mar escuro
me procurava como antes, quando nem existias,
quando sem te enxergar naveguei a teu lado
e teus olhos buscavam o que agora - pão,
vinho, amor e cólera - te dou, cheias as mãos,
porque tu és a taça que só esperava
os dons da minha vida.
Dormi junto contigo a noite inteira,
enquanto a escura terra gira com vivos e com mortos,
de repente desperto e no meio da sombra meu braço
rodeava tua cintura.
Nem a noite nem o sonho puderam separar-nos.
Dormi contigo, amor, despertei, e tua boca
saída de teu sono me deu o sabor da terra,
de água-marinha, de algas, de tua íntima vida,
e recebi teu beijo molhado pela aurora
como se me chegasse do mar que nos rodeia .
Pablo Neruda
Selvagem e doce eras entre o prazer e o sono,
entre o fogo e a água.
Talvez bem tarde nossos
sonos se uniram na altura e no fundo,
em cima como ramos que um mesmo vento move,
embaixo como raízes vermelhas que se tocam.
Talvez teu sono se separou do meu e pelo mar escuro
me procurava como antes, quando nem existias,
quando sem te enxergar naveguei a teu lado
e teus olhos buscavam o que agora - pão,
vinho, amor e cólera - te dou, cheias as mãos,
porque tu és a taça que só esperava
os dons da minha vida.
Dormi junto contigo a noite inteira,
enquanto a escura terra gira com vivos e com mortos,
de repente desperto e no meio da sombra meu braço
rodeava tua cintura.
Nem a noite nem o sonho puderam separar-nos.
Dormi contigo, amor, despertei, e tua boca
saída de teu sono me deu o sabor da terra,
de água-marinha, de algas, de tua íntima vida,
e recebi teu beijo molhado pela aurora
como se me chegasse do mar que nos rodeia .
Pablo Neruda
setembro 28, 2006
Pássaro
Aquilo que ontem cantava
já não canta.
Morreu de uma flor na boca:
não do espinho na garganta.
Ele amava a água sem sede,
e, em verdade,
tendo asas, fitava o tempo,
livre de necessidade.
Não foi desejo ou imprudência:
não foi nada.
E o dia toca em silêncio
a desventura causada.
Se acaso isso é desventura:
ir-se a vida
sobre uma rosa tão bela,
por uma ténue ferida.
já não canta.
Morreu de uma flor na boca:
não do espinho na garganta.
Ele amava a água sem sede,
e, em verdade,
tendo asas, fitava o tempo,
livre de necessidade.
Não foi desejo ou imprudência:
não foi nada.
E o dia toca em silêncio
a desventura causada.
Se acaso isso é desventura:
ir-se a vida
sobre uma rosa tão bela,
por uma ténue ferida.
Cecília Meireles